O Escaravelho de Ouro - Cap. 1: O escaravelho de ouro Pág. 19 / 38

Estava inexplicavelmente interessado, direi até excitado. Talvez houvesse na extravagante atitude de Legrand um ar de deliberação, de inspiração, que me impressionara.

Foi, pois, com todas as forças que me pus a escavar. De vez em quando dava por mim a esperar descobrir, com um sentimento muito próximo da ânsia, o imaginário tesouro, a visão do qual enlouquecera o meu infortunado companheiro. Numa altura em que o meu pensamento assim errava e quando já tínhamos atrás de nós mais de hora e meia de trabalho, fomos novamente interrompidos pelos violentos latidos do cão. Da primeira vez o cão ladrara evidentemente por capricho ou brincadeira, mas agora havia nos seus latidos um tom sério e aflito. Quando Júpiter tentou açaimá-lo de novo o cão resistiu furiosamente e, saltando para dentro da cova, começou a remexer freneticamente a terra com as patas. Em poucos segundos pôs a descoberto uma quantidade de ossos humanos que formavam dois esqueletos completos, misturados com vários botões de metal e o que parecia ser restos de fazenda. Mais uma ou duas escovadelas puseram a descoberto a lâmina de uma grande faca espanhola e pouco depois apareciam três ou quatro moedas de ouro e prata. Ao ver isto, Júpiter não pôde conter a sua alegria, mas a atitude do amo parecia denotar um imenso desapontamento. Animou-nos, no entanto, o prosseguir no trabalho; mas mal acabara de proferir essas palavras quando tropecei e caí para a frente, pois a biqueira da bota prendera-se numa grande argola de ferro meio escondida na terra revolvida.

Retomámos então a nossa tarefa e nunca vivi dez minutos de mais intensa excitação. Durante esse tempo pusemos a descoberto um cofre de madeira rectangular, que, a julgar pelo seu perfeito estado de conservação, devia ter sido submetido a um qualquer processo de mineralização - talvez ao do bicloreto de mercúrio.





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