O Escaravelho de Ouro - Cap. 1: O escaravelho de ouro Pág. 21 / 38

A noite avançava e era preciso apressarmo-nos para pôr tudo em lugar seguro antes do nascer do dia. Era difícil dizer o que se devia fazer, e muito tempo se gastou em deliberações - tão confusos todos nos achávamos. Acabámos finalmente por esvaziar a caixa de dois terços do seu conteúdo, o que nos permitiu com algum esforço tirá-la do buraco. A parte retirada foi depositada entre o tojo, deixando-a à guarda do cão, a quem Júpiter recomendou que não saísse do lugar sob que pretexto fosse, nem abrisse a boca até ao nosso regresso. Apressámo-nos então a levar o cofre para casa, onde chegámos em segurança, mas extremamente cansados, à uma hora da manhã. Exaustos como estávamos, a nossa natureza humana não nos permitiu fazer mais naquela altura. Descansámos até às duas e ceámos. Logo depois retomámos o caminho das colinas munidos de três grandes sacos que felizmente havia em casa. Chegámos ao buraco um pouco antes das quatro, dividimos o resto do tesouro em partes sensivelmente iguais e, sem tapar os buracos, regressámos à cabana, onde, pela segunda vez, depositámos a nossa carga de ouro no momento preciso em que, a oriente, os primeiros raios de sol começavam a iluminar os cimos das árvores.

Estávamos esgotados, mas a exaltação não nos deixava repousar. Depois de um sono agitado de três ou quatro horas levantámo-nos, como se estivéssemos combinados, para irmos examinar o tesouro.

O cofre estava cheio até aos bordos e passámos o dia inteiro e parte da noite seguinte a examinar minuciosamente o seu conteúdo. Não houvera qualquer ordem ou método no enchimento do cofre. Tudo fora amontoado com a maior promiscuidade. Separando tudo cuidadosamente, descobrimos que possuíamos uma fortuna ainda maior que a que imaginávamos. Em moedas havia mais de quatrocentos e cinquenta mil dólares - avaliando o valor das peças com a maior precisão possível pelas tabelas da época.





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