O Escaravelho de Ouro - Cap. 1: O escaravelho de ouro Pág. 6 / 38

Aqui voltou a fazer um exame ansioso ao papel, voltando-o em todas as direcções. Continuou, porém, sem dizer palavra e a sua atitude intrigou-me enormemente. Achei, contudo, prudente não exacerbar o seu mau humor crescente com algum comentário. Pouco depois Legrand tirou do bolso do casaco uma carteira, guardou nela o papel com todo o cuidado e depositou ambas as coisas numa escrivaninha que fechou à chave. Pareceu-me então que a sua má disposição se desvanecera; mas o entusiasmo original desaparecera também. Estava mais distraído que zangado. À medida que a noite avançava foi mergulhando cada vez mais nos seus devaneios, aos quais não consegui de forma alguma arrancá-lo. Era minha intenção passar a noite na cabana, mas, ao ver os modos do meu anfitrião, achei melhor despedir-me. Legrand não insistiu para que eu ficasse, mas à saída apertou-me a mão ainda mais efusivamente que de costume.

Foi cerca de um mês depois disto (e entretanto não tivera quaisquer notícias de Legrand) que recebi, em Charleston, a visita do negro Júpiter. Nunca vira o velho negro tão abatido e o meu primeiro pensamento foi que acontecera algum desastre grave ao meu amigo.

- Bom, Jup - disse eu -, que se passa? Como está o teu patrão?

- Olhe, Massa, pa'a não menti', ele não 'tá tão bem como devia 'ta'.

- Não está bem? De que é que ele se queixa?

- O'a! nunca se queixa... mas 'tá muito mal.

- Muito mal, Júpiter! Porque não disseste logo? Está de cama?

- Não, isso não 'tá, Mas não pá'a quieto; o p'oblema é esse. E eu 'tou muito aflito com o pob' e Massa Will.

-Júpiter, não percebo muito bem o que estás a dizer. Falas que o teu amo está doente. Mas com quê? Que é que o atormenta?

- Ah, Massa! Não vale a pena que' e' sabe' isso.





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