O Homem da Multidão - Cap. 1: O homem da multidão Pág. 7 / 11

Estas observações espicaçaram-me a curiosidade e resolvi seguir o estranho, fosse qual fosse o seu destino.

Era já noite cerrada e um nevoeiro espesso e húmido pairava sobre a cidade, não tardando a converter-se numa chuva grossa e ininterrupta. Esta mudança de tempo produziu um estranho efeito sobre a multidão, que imediatamente se agitou em massa num novo movimento e se eclipsou sob um mundo de guarda-chuvas. As hesitações, os empurrões e o ruído tornaram-se dez vezes maiores. Por mim, não me preocupei grandemente com a chuva - uma vaga febre antiga tornava-me a humidade um tanto perigosamente agradável. Atando um lenço em torno da boca, prossegui. Durante meia hora o velho continuou a abrir caminho com dificuldade ao longo da extensa artéria. Como nem uma só vez voltou a cabeça para trás, não deu pela minha presença. Acabou por passar a uma rua transversal, que, embora pejada de gente, não registava tanto movimento de pessoas como a artéria principal que abandonara. Nesta altura, foi visível uma mudança na sua atitude. Caminhava mais devagar e menos decididamente do que antes - de modo mais hesitante. Atravessava a rua para um lado e para o outro sem qualquer motivo aparente; e a multidão era ainda tão compacta que, a cada um desses movimentos, me via obrigado a segui-lo de perto. A rua era estreita e comprida, e ele continuou a percorrê-la durante cerca de uma hora, espaço de tempo em que os transeuntes tinham diminuído até ao número aproximado que habitualmente se observa à tarde na Broadway, junto ao Parque - tão grande é a diferença entre uma multidão em Londres e na mais frequentada das cidades americanas. Uma segunda mudança de direcção conduziu-nos a uma praça bem iluminada e transbordante de vida. E a atitude do estranho reapareceu.





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