O Homem da Multidão - Cap. 1: O homem da multidão Pág. 8 / 11

Deixou cair o queixo sobre o peito, enquanto os olhos giravam desordenadamente sob as sobrancelhas franzidas, em todas as direcções, para todos os que o cercavam. Firme e perseverantemente, estugou o passo. Surpreendeu-me, porém, descobrir que, depois de ter dado a volta à praça, regressou pelo mesmo caminho. E mais espantado fiquei ainda ao vê-lo repetir várias vezes o mesmo trajecto - de uma delas por pouco não me detectando, ao dar meia volta num movimento brusco.

Passou outra hora neste exercício, finda a qual se notavam muito menos interrupções causadas por outros transeuntes do que anteriormente. A chuva caía fortemente, o ar esfriava e as pessoas regressavam aos seus lares. Com um gesto de impaciência, o velho errante passou a uma rua secundária comparativamente deserta. Durante toda essa rua, que tinha cerca de quatrocentos metros, correu com uma agilidade de que eu nem por sombras suspeitaria num homem tão idoso e que me criou grandes dificuldades para o perseguir. Daí a poucos minutos desembocámos num amplo e tumultuoso bazar, com cuja disposição o estranho parecia bem familiarizado e no qual surgiu uma vez mais a sua atitude inicial, ao abrir caminho para um lado e para o outro, sem objectivo, por entre o mago te de compradores e vendedores.

Durante os noventa minutos, aproximadamente, que passámos nesse lugar, foi-me necessária grande cautela para o não perder de vista sem lhe despertar a atenção. Felizmente levava galochas de borracha, pelo que podia deslocar-me no mais completo silêncio, e assim ele nunca se apercebeu de que o observava. Entrava numa e noutra loja, sem perguntar o preço fosse do que fosse e sem pronunciar palavra, olhando para todos os objectos com uma expressão estranha e ausente. Sentia-me agora completamente atónito com o seu comportamento e firmemente resolvido a não me separar dele até ter de algum modo satisfeito a curiosidade que me despertava.





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