Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 1: O homem da multidão

Página 6

Com a testa comprimida de encontro ao vidro, entretinha-me deste modo a contemplar a multidão, quando subitamente se me deparou uma fisionomia (a de um velho decrépito, dos seus sessenta e cinco ou setenta anos de idade) que imediatamente me atraiu e monopolizou a atenção, dada a absoluta idiossincrasia da sua expressão. Nunca havia visto coisa que se parecesse, mesmo que remotamente, com tal expressão. Lembro-me perfeitamente de que a minha primeira ideia, ao aperceber-me dela, foi que Retzch, se a visse, a preferiria de longe às suas próprias encarnações pictóricas do Demónio. Enquanto me esforçava, durante o breve momento da minha pesquisa inicial, por analisar de algum modo o significado que ela transmitia, surgiram-me confusa e paradoxalmente no espírito as noções de grande capacidade mental, de precaução, de mesquinhez, de avareza, de frieza, de maldade, de sede de sangue, de triunfo, de contentamento, de extremo terror, de intenso - de profundo desespero. Senti-me estranhamente excitado, surpreso, fascinado. «Que estranha história», disse para comigo, «está inscrita naquele peito!» Sobreveio-me um desejo ardente de não perder o homem de vista - de ficar a saber mais sobre a sua pessoa. Envergando precipitadamente o sobretudo e pegando no chapéu e na bengala, dirigi-me para a rua e abri caminho por entre a multidão no sentido que o tinha visto tomar, pois ele já desaparecera. Com alguma dificuldade, consegui finalmente descobri-lo, aproximei-me e segui-o de perto, mas cautelosamente, de modo a não lhe despertar a atenção.

Dispunha agora de uma boa oportunidade para lhe examinar o aspecto.

Era de baixa estatura, muito magro e aparentemente muito débil. Trazia as roupas de um modo geral sujas e esfarrapadas; porém, ao ser de vez em quando iluminado pelo brilho cru de um candeeiro, apercebia-me de que o tecido, embora sujo, era de boa textura; e, ou a minha vista me iludiu, ou, através de um rasgão do roquelaure (espécie de capote sem mangas, até ao joelho ) abotoado até acima e obviamente em segunda mão que o envolvia, entrevi um diamante e um punhal.

<< Página Anterior

pág. 6 (Capítulo 1)

Página Seguinte >>

Capa do livro O Homem da Multidão
Páginas: 11
Página atual: 6

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
O homem da multidão 1