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Capítulo 1: O poço e o pêndulo

Página 16
Eram barulhentos, atrevidos, vorazes; os seus olhos vermelhos estavam fitos em mim como se esperassem apenas a minha imobilidade para se saciarem no meu corpo. «A que manjares», pensei, «estarão eles habituados no poço?»

Apesar de todos os meus esforços para o impedir, tinham devorado quase toda a comida do meu prato. A minha mão voltara ao seu habitual movimento de vaivém por cima do prato: e, com o tempo, a uniformidade inconsciente do movimento fê-lo perder a eficácia. Na sua voracidade, os animais cravaram frequentemente os dentes nos meus dedos. Com as partículas da carne gordurosa e apimentada esfreguei cuidadosamente todas as partes da correia a que consegui chegar; depois, retirando a mão do chão fiquei imóvel, sustendo a respiração.

A princípio os vorazes animais ficaram espantados e aterrados com a mudança - a cessação do movimento. Afastaram-se alarmados; muitos deles refugiaram-se no poço. Mas esta atitude durou apenas alguns instantes Não fora em vão que contara com a sua voracidade. Ao verem que eu continuava imóvel, um ou dois dos mais atrevidos treparam para o catre de madeira e puseram-se a cheirar a correia. Isto pareceu ser o sinal para o ataque geral. Tropas frescas precipitaram-se para fora do poço. Agarraram-se à madeira - escalaram-na e atiraram-se às centenas para cima de mim O movimento compassado do pêndulo não os perturbou de forma alguma. Evitando-o, trabalhavam afanosamente sobre a correia besuntada. Amontoavam-se em cima de mim, enxameavam em hordas cada vez mais numerosas; corriam sobre a minha garganta; os seus beiços frios procuravam-me. Sentia-me quase asfixiado pelo seu peso; um nojo, para o qual não há nome no mundo, invadiu-me o peito e gelou com um vómito pesado o meu coração.

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Capa do livro O Poço e o Pêndulo
Páginas: 20
Página atual: 16

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
O poço e o pêndulo 1