O Poço e o Pêndulo - Cap. 1: O poço e o pêndulo Pág. 15 / 20

Era a esperança - a esperança que triunfa até na forca - que murmura aos ouvidos dos condenados à morte mesmo nas masmorras da Inquisição.

Vi que cerca de dez ou doze oscilações poriam o aço em contacto directo com a minha roupa - e com essa observação entrou no meu espírito a calma aguda e condensada do desespero. Pela primeira vez em muitas horas - em muitos dias talvez -pensei. Veio-me à ideia que a corda ou correia que me envolvia era uma peça única. Estava amarrado por um elo contínuo. A primeira mordedura da lâmina, do crescente, numa parte qualquer da correia devia cortá-la o suficiente para permitir que a minha mão esquerda a desenrolasse à minha volta. Mas que terrível era, nesse caso, a proximidade do aço. Os efeitos da mais mínima agitação quão mortais! Seria além disso possível que os carrascos não previssem essa possibilidade? Seria provável que a correia atravessasse o meu peito no ponto do percurso do pêndulo? Temendo ver frustrada a minha leve e, ao que parecia, última esperança, levantei tanto quanto pude a cabeça até poder ver distintamente o meu peito. A correia envolvia o meu corpo em todas as direcções excepto no percurso do crescente destruidor.

Mal deixei cair a cabeça na sua posição primitiva quando senti brilhar-me no espírito algo que não poderei melhor definir que como a metade não formada dessa ideia de libertação de que já falei e de que apenas uma metade me flutuara vagamente no cérebro quando levava aos lábios ardentes o alimento. A ideia inteira estava agora presente - fraca, quase invisível, quase indefinida -, mas, enfim, completa. Dediquei-me imediatamente, com a energia nervosa do desespero, a tentar pô-la em execução.

Durante muitas horas a vizinhança imediata do cavalete onde me haviam amarrado estava literalmente coberta de ratos.





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