O Poço e o Pêndulo - Cap. 1: O poço e o pêndulo Pág. 17 / 20

Mais um minuto e o combate estaria terminado. Sentia perfeitamente soltar-se a correia que me prendia. Sabia que devia estar já cortada em mais de um ponto. Com uma resolução superior às forças humanas, deixei-me ficar muito quieto.

Não me enganara nos meus cálculos - nem fora inútil o sofrimento. Finalmente senti que estava livre. A correia pendia em pedaços à volta do meu corpo. Mas o pêndulo roçava já o meu peito; rasgara já o burel da minha túnica; cortava o tecido da camisa interior; oscilou mais duas vezes - e uma sensação de dor intensa arrepiou todos os meus nervos. Mas o momento da salvação chegara. A um gesto da mão os meus libertadores fugiram em tumulto. Com um movimento regular e certo - cauteloso e oblíquo -, encolhendo-me todo, libertei-me do abraço da correia e do alcance da cimitarra. Pelo menos de momento estava livre.

Livre! - E nas garras da Inquisição. Ainda mal descera do meu catre de horror para o chão de pedra da prisão quando parou o movimento da máquina infernal e a vi desaparecer como puxada por uma força invisível através do tecto. Foi uma lição que desesperadamente decorei. Não havia dúvida de que todos os meus movimentos eram observados. Livre! - Só escapara à morte numa forma de agonia para ser condenado a algo pior que a morte de outra forma qualquer. Com este pensamento os meus olhos percorreram nervosamente as barreiras de ferro que me aprisionavam. Algo de estranho - uma alteração que a princípio não consegui perceber claramente - acontecera obviamente na cela. Durante longos minutos de abstracção sonhadora e trémula dediquei-me a conjecturas inúteis e desconexas. Durante esse tempo apercebi-me pela primeira vez de onde provinha a luz sulfurosa que iluminava a cela. Vinha de uma fenda de cerca de meia polegada de largura que corria ao longo de toda a base das paredes, de tal forma que estas pareciam, e estavam de facto, completamente separadas do chão.





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