- Venham só ver isto: ele morreu! Está para ali estendido, morto!
O Senhor e a Senhora Samsa ergueram-se na cama e, ainda sem perceberem completamente o alcance da exclamação da empregada, experimentaram certa dificuldade em vencer o choque que lhes produzira. A seguir, saltaram da cama, cada um do seu lado. O Senhor Samsa pôs um cobertor pelos ombros; a Senhora Samsa saiu de camisa de dormir, tal como estava. E foi neste preparo que entraram no quarto de Gregório. Entretanto, abrira-se também a porta da sala de estar, onde Grete dormia desde a chegada dos hóspedes; estava completamente vestida, como se não tivesse chegado a deitar-se, o que parecia confirmar-se igualmente pela palidez do rosto.
- Morto? - perguntou a Senhora Samsa, olhando inquisidoramente para a criada, embora pudesse ter verificado por si própria e o fato fosse de tal modo evidente que dispensava qualquer investigação.
- Parece-me que sim - respondeu a criada, que confirmou a afirmação empurrando o corpo inerte bem para um dos extremos do quarto, com a vassoura. A Senhora Samsa fez um movimento como que para impedi-lo, mas logo se deteve.
- Muito bem - disse o Senhor Samsa -, louvado seja Deus.
- Persignou-se, gesto que foi repetido pelas três mulheres. Grete, que não conseguia afastar os olhos do cadáver, comentou: - Vejam só como ele estava magro. Há tanto tempo que não comia! Quando se ia buscar a comida, estava exatamente como quando se tinha posto no quarto. - Efetivamente o corpo de Gregório apresentava-se espalmado e seco, agora que se podia ver de perto e sem estar apoiado nas patas.