- Não é nada disso - gritou com uma voz trocista que fez corar a pobre rapariga. - É bem simpático, não é, este jovem? - Retomou - Está a dar-me uma ideia. Farei a vossa felicidade a ambos, minha bela criança.
A senhora Couture tinha tomado o braço da pupila e arrastando-a disse-lhe ao ouvido:
- Mas, Victorine, a menina está intolerável esta manhã.
- Não quero tiros em minha casa - disse a senhora Vauquer. - Vão assustar toda a vizinhança e chamar a Polícia, ora essa!
- Então, calma, mamã Vauquer - respondeu Vautrin. - Pronto, pronto, calminha, iremos para o campo de tiro. - Voltou para junto de Rastignac, que pegou com familiaridade pelo braço: - Quando lheprovar que a trinta e cinco passos acerto cinco vezes seguidas num ás de paus - disse-lhe -, isso não lhe retirará a sua coragem. Parece-me ser um pouco impetuoso e acabaria por se fazer matar como um imbecil.
- Está a recuar - disse Eugène.
- Não me provoque - respondeu Vautrin. - Não está frio esta manhã, venha, vamos sentar-nos ali - disse, mostrando os bancos pintados de verde. - Ali, ninguém o ouvirá. Tenho que falar consigo. É um bom rapaz, a quem não quero mal algum. Gosto de si, palavra de Tromp... (raios!), palavra de Vautrin. Porque gosto de si, já lho direi. Conheço-o como se o tivesse feito eu, e vou prová-lo. Ponha os seus sacos ali- retomou, mostrando-lhe uma mesa redonda.
Rastignac pousou o dinheiro na mesa e sentou-se preso a uma curiosidade que aumentou após a mudança repentina dos modos deste homem, que após ter falado em matá-lo apresentava-se agora como seu protector.
- Gostaria muito de saber quem sou, o que fiz ou o que faço - continuou Vautrin. - É demasiado curioso, meu pequeno. Então, tenha calma. Irá ouvir muitas outras coisas! Tive desgraças.
