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Capítulo 1: O PAI GORIOT

Página 102
Ouvi-me primeiro, responderá depois. Eis a minha vida passada em três palavras. Quem sou? Vautrin. Que faço? O que me apetece? Passemos à frente. Quer conhecer o meu carácter? Sou bom com os que me fazem coisas boas ou com aqueles cujo coração fala com o meu. A esses tudo é permitido, podem dar-me pontapés nas pernas sem que eu lhes diga: Tem cuidado! Mas, caramba! Sou mau como o diabo com os que me chateiam, ou que não me são queridos. E é bom que saiba que me importa pouco matar um homem como uma pulga! - disse, cuspindo. - Só que esforço-me por o matar de forma limpa, quando é absolutamente necessário. Sou aquilo a que pode chamar um artista. Li as Memórias de Benvenuto Cellini, e, ainda por cima, em italiano! Aprendi com esse homem, que era um belo pândego, a imitar a providência que nos mata a torto e a direito e a amar o belo onde quer que se encontre. Não será uma bela partida estar só contra todos os homens e ter sorte? Reflecti bastante sobre a constituição actual da sua desordem social. Meu pequeno, o duelo é uma brincadeira de criança, uma estupidez. Quando entre dois homens vivos um deles tem de desaparecer, é preciso ser imbecil para se entregar nas mãos da sorte. O duelo? Cara ou coroa! Aqui está. Enfio cinco balas de seguida num ás de paus abrindo o buraco cada vez mais que enfio a bala seguinte, e ainda por cima a 35 passos! Quando se tem este pequeno dom, pode ter-se a certeza de abater um homem. Pois bem! Atirei num homem a 20 passos, falhei. O engraçadinho nunca tinha pegado numa arma na vida. Olhe! diz esse homem extraordinário abrindo o colete e mostrando o peito felpudo como o dorso de um urso, mas com uma crina cor de fogo que causava uma espécie de repulsa receosa. - Esse fedelho estorricou-me o pêlo - acrescentou, pondo o dedo de Rastignac num buraco que tinha no peito.

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Capa do livro O Pai Goriot
Páginas: 279
Página atual: 102

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
O PAI GORIOT 1