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- Que devo fazer? - disse, avidamente, Rastignac, interrompendo Vautrin,
- Quase nada - respondeu este, deixando escapar um movimento de alegria parecido com a expressão muda de um pescador que sente o peixe a morder a isca. - Ouvi-me bem! O coração de uma pobre rapariga infeliz e miserável é a esponja mais ávida de amor, uma esponja seca que se dilata logo que lá caia uma gota de sentimento. Faça a corte a uma jovem que se encontre em estado de solidão, de desespero e pobreza sem que ela duvide da sorte que a espera! Bolas! É uma mão-cheia de ases, é conhecer os números da lotaria, é jogar a renda sabendo desde já o resultado. Constrói com bons alicerces um casamento indestrutível. Que venham milhões a essa jovem e ela irá lançá-los a seus pés, como se fossem pedras. «Toma, meu bem amado! Pega Adolfo! Alfredo! Toma, Eugène!», dirá ela, se Adolfo, Alfredo ou Eugène tiveram o bom senso de se sacrificarem por ela. O que chamo sacrifícios é vender um velho fato para ir ao restaurante Cadran-Bleu comer juntos empadas com cogumelos; daí, à noite, ir ao teatro cómico; é penhorar o relógio para lhe dar um xaile. Não lhe falo dos recadinhos infantis de amor nem das frivolidades que as mulheres tanto gostam, como, por exemplo, espalhar gotas de água no papel em guisa de lágrimas quando estamos longe delas: parece-me conhecer perfeitamente o calão do coração. Paris, está a ver, é como uma floresta do Novo Mundo, onde se agitam vinte espécies de povos selvagens, os Illinós, os Hurões, que vivem do produto que dá as diferentes classes sociais; você é um caçador de milhões. Para os apanhar, utiliza ratoeiras, manha, logros. Há várias maneiras de caçar. Uns caçam na altura do dote; outros na liquidação; estes pescam a consciência das pessoas, aqueles vendem os seus assinantes de pernas e mãos atados a quem lhes der mais.
