O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 112 / 279

Se ainda tenho um conselho a dar-lhe, meu anjo, é de não ser tão apegado às suas opiniões quanto às suas palavras. Quando lhas pedirem, venda-as. Um homem que se gaba de nunca mudar de opinião é um homem que está destinado a ir sempre em linha recta, "um estúpido que acredita que tudo é infalível. Não há princípios, só acontecimentos; não há leis, só circunstâncias: o homem superior casa os acontecimentos e as circunstâncias para os dominar. Se houvesse princípios e leis fixas, os povos não as mudariam como se muda de camisa. Não se pede a um homem que seja mais bem comportado do que uma nação. O homem que menos fez pela França é um fetiche venerado por sempre ter visto tudo vermelho, só serve para se colocar no conservatório, no meio das máquinas, com a etiqueta La Fayette, enquanto o príncipe a quem todos atiram a pedra e que menospreza a humanidade o suficiente para lhe cuspir na cara todas as juras que pede impediu a divisão da França no congresso de Viena: devemos-lhe coroas, deita-se-lhe lama. Oh! Eu conheço os negócios! Detenho os segredos de muitos homens! Basta. Terei uma opinião indestrutível até ao dia em que encontrar três cabeças de acordo sobre o emprego de um princípio e irei esperar muito! Não se encontra nos tribunais três juízes que tenham a mesma opinião sobre um artigo da lei. Volto ao nosso homem. Poria Jesus Cristo de novo na cruz se eu lhe pedisse. Basta uma palavra do papá Vautrin, e procurará briga com esse finório que não manda nem sequer cem vinténs à pobre irmã, e... - Aqui Vautrin levantou-se, pôs-se em guarda, e fez o movimento de um mestre de armas que cai por terra. - E à sombra! - acrescentou.

- Que horror! - disse Eugène - Está a brincar, senhor Vautrin?

- Vá, vá, vá, calma - retomou esse homem.





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