O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 142 / 279

No caminho pareceu agitada e recusou responder às mil perguntas de Eugène, que não sabia o que pensar desta resistência muda, compacta, obtusa.

«Neste momento está a escapar-me», pensou.

Quando o carro parou, a baronesa olhou para o estudante com um ar que impunha silêncio às suas palavras loucas, pois ele tinha-se exaltado.

- Gosta mesmo de mim? - disse ela.

- Sim - respondeu ele, escondendo a inquietude que o tomava.

- Não pensará nada de mal sobre mim, apesar do que eu lhe possa pedir? - Não.

- Está disposto a obedecer-me?

- Cegamente.

- Já alguma vez jogou? - disse com uma voz trémula.

- Nunca.

- Ah! Respiro de alívio. Será feliz. Eis a minha bolsa - disse ela. - Tome! Tem 100 francos, é tudo o que possui esta mulher tão feliz. Suba a uma destas casa de jogo, não sei onde ficam, mas sei que existem no Palais Royal. Aposte os 100 francos num jogo que se chama roleta e perdei tudo ou trazei-me 6000 francos. Dir-lhe-ei as minhas tristezas na volta.

- Que o diabo me leve se percebo o que vou fazer; mas vou obedecer - disse com uma alegria provocada por este pensamento: «Ela compromete-se comigo, não poderá recusar-me nada.»

Eugène pega na bela bolsa, corre ao número 9, após ter perguntado o caminho da casa de jogo mais próxima a um vendedor de fatos. Sobe, dá o chapéu a guardar, mas entra e pergunta onde está a roleta. Para espanto dos outros, o empregado leva-o frente a uma mesa comprida. Eugène, seguido de todos os espectadores, pergunta sem vergonha onde se tem de apostar.

- Se colocar 1 luís na beira destes 36 números, e se sair, terá 36 luíses -, disse-lhe um velho respeitável de cabelos brancos.

Eugène lança os 100 francos sobre o número da sua idade, 21. Um grito de espanto sai sem que ele tenha tido tempo de se reconhecer.





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