O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 169 / 279

Ao entrar, reparou em Eugène de Rastignac com a menina Taillefer numa conversa bastante íntima cujo interesse era tão palpitante que o casal não prestou a mínima atenção à passagem dos dois velhos pensionistas quando atravessaram a sala de jantar.

- Já se esperava - disse a menina Michonneau a Poiret. - Já faziam olhinhos de furar a alma há oito dias.

- Sim - respondeu este. - Por isso ela foi condenada.

- Quem?

- A senhora Morin.

- Estou a falar-lhe da menina Victorine - disse a Michonneau entrando, sem se aperceber, no quarto de Poiret - e você responde-me pela senhora Morin. Quem é essa mulher?

- De que seria culpada a menina Victorine? - perguntou Poiret.

- É culpada de amar o senhor Eugène de Rastignac e vai sem saber onde isso a levará, pobre inocente!

Eugène fora, durante a manhã, levado ao desespero pela senhora de Nucingen. No seu mais íntimo, tinha-se completamente entregue a Vautrin, sem querer sondar nem os motivos nem a amizade que lhe tinha esse homem extraordinário, nem o futuro de semelhante união. Era preciso um milagre para o tirar do abismo onde tinha já tinha posto o pé há uma hora, trocando com a menina Taillefer as mais doces promessas. Victorine pensava ouvir a voz de um anjo, os céus abriam-se para ela, a casa Vauquer tingia-se das cores fantásticas que os decoradores dão aos palácios de teatro: ela amava, era amada, pelo menos pensava que sim! E que mulher não teria pensado o mesmo vendo Rastignac, ouvindo-o falar durante essa hora longe de todos os olhares espiões da casa. Debatendo-se contra a sua consciência, sabendo que estava a fazer mal, dizendo-se que expiaria esse pecado perdoável pela felicidade de uma mulher, este tinha-se embelezado com o seu desespero e resplandecia de todos os fogos do inferno que tinha no coração.





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