E se nos enganasse, isso seria resolvido ao murro. Oh! Não é possível.
- Juro-lhe que só amo uma mulher no mundo - disse o estudante. - Só o sei desde há alguns momentos.
- Ah, que felicidade! - disse o pai Goriot.
- Mas - continuou o estudante - o filho de Taillefer tem um duelo amanhã e ouvi dizer que vão matá-lo.
- Que tem você a ver com isso? - disse Goriot.
- Mas tem de se lhe dizer de impedir o filho de ir... - gritou Eugène.
Nesse momento, foi interrompido pela voz de Vautrin, que se fez ouvir na entrada da porta, onde cantava:
O Ricardo, ó meu rei!
O universo abandona-te...
Broum! broum! broum! broum! broum!
Percorri o mundo durante muito tempo
E viram-me...
Tra la, la, la, la...
- Senhores - gritou Christophe -, a sopa está à vossa espera e toda a gente está à mesa.
- Toma - disse Vautrin -, vai buscar uma garrafa do meu vinho de Bordéus.
- Gosta do relógio? - disse o pai Goriot. - Tem bom gosto, não é verdade!
Vautrin, o pai Goriot e Rastignac desceram juntos e ficaram, devido ao atraso, sentados lado a lado na mesa. Eugène demonstrou a maior frieza a Vautrin durante o jantar, apesar de este homem, tão amável aos olhos da senhora Vauquer, nunca ter sido tão espirituoso como nessa noite. Foi brilhante em graças e soube pôr todos os convivas de bom humor. Esta segurança, este sangue-frio consternavam Eugène.
- Por que caminhos andou hoje? - disse a senhora Vauquer. - Está
alegre como um passarinho.
- Estou sempre alegre quando faço bons negócios.
- Negócios? - disse Eugène.
- Pois sim! Entreguei parte de uma mercadoria que me dará uma boa comissão. Menina Michonneau - disse, apercebendo-se de que a rapariga o observava -, terei na cara um traço que lhe desagrade, que me está a lançar um olhar americano? Tem de mo dizer! Mudarei só para lhe agradar.