Não, não venha amanhã. Não quero ficar mal disposta. O baile da senhora de Beauséant é depois de amanhã, quero cuidar de mim para me apresentar bela, repousada e honrar o meu querido Eugène! Vamos então ver o seu quarto.
Nesse momento um carro parou na Rua Neuve-Sainre-Cenevieve, e ouviu-se na escada a voz da senhora de Restaud que dizia a Sylvie:
- O meu pai está? - Esta circunstância salvou felizmente Eugène, que já pensava atirar-se para a cama e fingir que dormia.
- Ah! Meu pai, já lhe disseram o que aconteceu a Anastasie? - disse Delphine, reconhecendo a voz da irmã. - Parece que também se passam coisas muito estranhas no seio do seu casamento.
- Como! - disse o pai Goriot. - Será então o meu fim. A minha pobre cabeça não resistirá a uma dupla desgraça.
- Bom dia, meu pai - disse a condessa, entrando. -Ah! Delphine estás aqui.
A senhora de Restaud pareceu incomodada por encontrar a irmã.
- Bom dia, Nasie - disse a baronesa. - Achas então a minha presença tão extraordinária? Vejo meu pai todos os dias.
- Desde quando?
- Se aqui viesses, saberias.
- Não me atormentes, Delphine - disse a condessa com uma voz lamentável. - Sou bem infeliz, estou perdida, meu querido pai! Oh! Bem perdida desta vez!
- Que tens, Nasie? - exclamou o pai Goriot. - Diz-nos tudo, minha filha - ela empalideceu. - Delphine, vamos, acode-a então, sê boa para ela, ainda te amarei mais, se possível!
- Minha pobre Nasie - disse a senhora de Nucingen, ajudando a irmã a sentar-se -, fala. Vês em nós as duas únicas pessoas que te amarão sempre o suficiente para te perdoar tudo. Vê bem, os afectos da família são os mais seguros. - Deu-lhe sais para respirar e a condessa voltou a si.
- Morrerei com isto - dizia o pai Goriot. - Vejamos - continuou, avivando o seu lume de cascas de carvalho -, aproximai-vos as duas.