O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 253 / 279

- O pobre homem não tem dois dias, talvez nem seis horas para viver - disse o aluno de Medicina. - E, no entanto, não podemos parar de combater o mal. Vai ser preciso dar-lhe cuidados caros. Seremos os seus bons enfermeiros, mas não tenho nem um tostão. Já virei os bolsos dele do avesso, procurei nos armários, nada de nada. Questionei-o durante um momento em que estava lúcido, disse-me não ter nada. Quanto tens, tu?

- Resta-me 20 francos - respondeu Rastignac. - Mas irei ao jogo com ele, ganharei.

. - Se perderes?

- Pedirei dinheiro aos genros dele e às filhas.

- E se eles não o derem? - retomou Bianchon. - O mais urgente neste momento não é encontrar o dinheiro, temos de envolver o velhote com um sinapismo a ferver desde os pés até metade das coxas. Se gritar, é porque há esperanças. Sabes como isso se faz. Além disso, Christophe irá ajudar-te. Eu passarei no ervanário, a responsabilizar-me por todos os medicamentos que lá iremos buscar. É pena que o pobre homem não tenha sido transportado para o nosso hospício, estaria lá melhor. Vamos, vem para eu te instalar e não o deixes até eu voltar.

Os dois jovens entraram no quarto onde jazia o velhote. Eugène ficou assustado com a mudança dessa face convulsa, branca e profundamente debilitada.

- Então.ipapãi - disse, inclinando-se sobre a tarimba.

Goriot levantou sobre Eugène uns olhos sem vida e mirou-o muito atentamente sem o reconhecer. O estudante não suportou este espectáculo, algumas lágrimas humedeceram-lhe os olhos.

- Bianchon, não seria preciso ter cortinados nas janelas?

- Não. As circunstâncias atmosféricas já não o afectam; Seria demasiado bom se ele tivesse calor ou frio. No entanto precisamos de lume para fazer as infusões e preparar bem as coisas.





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