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Capítulo 1: O PAI GORIOT

Página 255
a bomba rebentasse por aqui - disse Bianchon, mostrando o occiput do doente -, existem exemplos de fenómenos singulares: o cérebro recobre algumas das suas faculdades e a morte é mais lenta a declarar-se. As serosidades podem desviar-se do cérebro, tomar um dos caminhos de que se conhecerá o curso apenas na autópsia. Há nos Incurables um velhote senil em que o alastramento seguiu a coluna vertebral; ele sofre horrivelmente mas vive.

- Divertiram-se muito? - disse o pai Goriot, que reconheceu Eugène.

- Oh! Só pensa nas filhas - disse Bianchon. - Disse-me mais de cem vezes esta noite: «Elas dançam! Ela tem o vestido dela!» Chamava-as pelo nome. Fazia-me chorar, que diabo! Com as suas entoações: «Delphine! Minha pequena Delphine! Nasie!» Palavra de honra - disse o aluno de Medicina -, era de cair em prantos.

- Delphine - disse o velhote -, está aqui, não é verdade? Eu sabia. - E os olhos dele reencontraram uma actividade louca para mirar as paredes e a porta.

- Desço para dizer à Sylvie para preparar os sinapismos - gritou Bianchon -, o momento é favorável.

Rastignac ficou só junto do velhote, sentado aos pés da cama, de olhos fixos nessa cabeça assustadora e dolorosa de ver.

«A senhora de Beauséant foge, este morre», pensou. «As belas almas não podem ficar muito tempo neste mundo. Como é que os grandes sentimentos se aliariam, com efeito, a uma sociedade mesquinha, pequena, superficial?»

As imagens da festa à qual tinha assistido voltaram à sua lembrança e contrastaram como espectáculo desse leito de morte. Bianchon reapareceu de repente.

- Ouve lá, Eugène, acabo de ver o nosso médico e voltei sempre a correr. Se se manifestarem sintomas de lucidez, se falar, deita-o sobre um longo sinapismo, de forma a envolvê-lo de mostarda desde a nuca até ao fim dos rins, e chama-nos.

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O PAI GORIOT 1