Nestas razões estavam, quando os alcançou um homem, que vinha atrás deles pelo mesmo caminho, montado numa formosa égua baia, com um gabão de fino pano verde, com bandas de veludo leonado, e trazendo na cabeça um gorro do mesmo veludo; os arreios da égua eram à campina e à gineta, também de iguais cores; pendia-lhe um alfange mourisco de um largo talim verde e ouro, e os borzeguins tinham os lavores do talim; as esporas não eram douradas, mas envernizadas de verde, tão tersas e brunidas, que, por dizerem bem com o resto do vestuário, pareciam melhor do que se fossem de ouro puro. Quando se aproximou deles o caminhante, saudou-os cortesmente e, picando as esporas à égua, passava de largo, mas D. Quixote disse:
— Cavalheiro, se Vossa Mercê leva o mesmo caminho que nós levamos, e não vai com muita pressa, grande honra eu teria em que fôssemos juntos.
— Na verdade — respondeu o da égua — não passaria tão de largo, se não fosse por temer que, com a companhia da minha égua, se alvorotasse esse cavalo.
— Bem pode, senhor — acudiu Sancho — sofrear as rédeas à égua, porque o nosso cavalo é o mais honesto e composto que se pode imaginar; nunca em semelhantes ocasiões praticou a mínima vileza, e a única vez que se desmandou, pagamo-lo caro eu e meu amo; assim, demore-se Vossa Mercê o tempo que quiser, que o cavalo, ainda que lhe sirvam a égua num prato, não é capaz de a afrontar.
Sofreou as rédeas o caminhante, admirando-se da figura e fisionomia de D. Quixote, que ia sem elmo, levando-lho Sancho, como se fosse mala, no arção dianteiro da albarda do ruço; e se o de Verde muito olhava para D. Quixote, muito mais o contemplava este, parecendo-lhe homem de grande respeito: a idade mostrava ser de cinquenta anos, poucas as cãs, o rosto aquilino, a vista entre grave e alegre; finalmente, no trajo e figura, dava a entender ser homem de boas prendas.