Sempre se disse que o meu pai tinha roubado as acções e fugido. Isso não é verdade. Ele acreditava que, se tivesse tempo para as transaccionar, tudo acabaria em bem e poderia pagar a todos os credores. Meteu-se no seu pequeno iate em direcção à Noruega antes de ser emitido o mandado de captura contra ele. Lembro-me dessa última noite, quando ele se despediu da minha mãe. Deixou-nos uma lista das acções que levava consigo e jurou que regressaria para junto de nós com a sua honra reabilitada e que nenhuma das pessoas que tinham confiado nele sofreria. Bom, nunca mais tivemos notícias dele. O iate e ele desapareceram sem deixar rasto. A minha mãe e eu convencemo-nos de que ele, e com ele as acções que levara, estava no fundo do mar. No entanto, temos um amigo fiel que é um homem de negócios e foi ele quem descobriu, há algum tempo, que algumas das acções que o meu pai levara consigo tinham reaparecido na bolsa de Londres. Podem imaginar o nosso espanto. Passei meses a tentar localizá-las e, finalmente, depois de muitas dúvidas e dificuldades, descobri que a pessoa que inicialmente as vendera fora o capitão Peter Carey, dono desta cabana.
»Como é natural, obtive algumas informações acerca dele. Descobri que era comandante de um navio de pesca da baleia que estava de regresso do oceano Ártico na altura em que o meu pai fizera a travessia para a Noruega. Nesse ano, o Outono foi muito tormentoso e houve uma longa sucessão de fortes ventos do sul. O iate do meu pai podia bem ter sido levado para norte, sendo encontrado pelo navio do capitão Peter Carey. Nesse caso, que é que tinha acontecido ao meu pai? Fosse como fosse, se eu conseguisse provar, através do testemunho de Peter Carey, a forma como essas acções tinham sido apresentadas na bolsa, isso seria uma prova de que o meu pai não as tinha vendido e que não pretendera obter lucros pessoais quando fugira com as acções.