que gostam de fazer de loucos, mas que o fazia com tal perfeição que facilmente se confundia o fingimento com a realidade. As suas graças eram tão despropositadas que, na maior parte das vezes, era ele e não o que dizia o motivo do riso e da troça.
Escapavam-lhe, porém, de vez em quando, palavras justas e sensatas, que confirmavam o velho ditado: quem muita tolice diz, alguma vez acerta. Assim, quando um dos convivas afirmou que eu dera solução ao problema dos ladrões e o cardeal aos vagabundos e que faltava apenas prover ao destino dos doentes e idosos, a quem a velhice e as maleitas levaram à miséria e a não poderem ganhar, com os seus braços, o próprio sustento, o bobo interrompeu-o, dizendo:
- Desses me encarrego eu. Sinto tão grande vontade de os ver longe da vista, pois me incomodam muitas vezes, e muitas delas pedindo-me com as suas choradeiras uma esmola. Mas, com essa música, nunca conseguiram de mim nem um soldo. Sempre que mo pediam e eu podia fazê-lo não queria, e sempre que eu queria não o podia fazer. Por isso se mostram agora muito mais razoáveis. Quando me vêem, deixam-me passar e calam-se, pois sabem que o seu trabalho será inútil. Por isso já sabem que têm tanto a esperar de mim como de um padre ou de um monge.
«Farei uma lei que estabeleça que todos os mendigos sejam distribuídos pelos estabelecimentos religiosos. Os homens para os conventos, e as mulheres professando como freiras.
Ao ouvir isto, o cardeal sorriu e apreciou esta sentença como uma ideia divertida, tomando-a, no entanto, os outros presentes como uma opinião séria. Ora, certo frade, formado em Teologia, tão divertido achou o gracejo que, embora homem sombrio e grave, começou a troçar alegremente:
- Ora, ora. Não conseguireis livrar-vos deles tão facilmente, se não atenderdes também à situação dos frades mendicantes.
