A Vida Amorosa de Moll Flanders - Cap. 2: A vida amorosa de Moll Flanders Pág. 259 / 359

Mas o fanqueiro às boas não ia e ainda lhe respondeu com más palavras. O guarda, porém, dominava-se, não perdia a calma nem a cabeça, até que achei por bem intrometer-me:

- Deixe-o lá, senhor guarda! Encontrarei maneira de o obrigar a com- parecer perante um magistrado, não tenha dúvidas. Mas temos ainda aquele indivíduo que me agarrou quando passava inocentemente na rua e de cujas violências posteriores o senhor é testemunha. Dê-me licença que lho confie e leve-o perante o juiz.

- Sim, minha senhora - aquiesceu o guarda, que acrescentou, voltando-se para o caixeiro em questão: - Tem de vir connosco; espero que não se julgue com mais autoridade do que eu, como acontece com o seu patrão.

O rapaz recuou, com cara de ladrão condenado, e depois olhou para o patrão, como se esperasse auxílio dele. O fanqueiro, como um idiota, encorajou-o a ser incorrecto com o guarda e ele resistiu-lhe e empurrou-o com força quando aquele quis prendê-lo. O guarda agrediu-o, gritou a pedir auxílio e a loja encheu-se imediatamente de gente, que o ajudou a prender o patrão, o caixeiro e todos os empregados.

A primeira má consequência da sarrafusca foi a fuga da mulher que tinham apanhado e que era realmente a ladra, a qual se perdeu no meio da multidão, assim como de duas outras mulheres, também detidas, e que não sei se eram culpadas, se não.

Entretanto acorreram alguns vizinhos e, depois de saberem o que se passava, tentaram acalmar o esquentado fanqueiro, o qual começou a perceber que não estava a proceder bem. Por fim, lá comparecemos serenamente perante o juiz de paz, com uma turba de cerca de quinhentas pessoas atrás de nós. No caminho ouvi inúmeras vezes umas pessoas perguntarem o que se passava e outras responderem que um fanqueiro detivera uma senhora em vez de uma ladra, que apanhara em seguida a ladra e que, no fim, a senhora mandara prender o fanqueiro e o levava ao juiz de paz.





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