O Raposo - Cap. 1: Capítulo 1 Pág. 29 / 111

De nada serve entrar floresta adentro para dizer ao veado: «Por favor, põe-te na mira da minha espingarda.» Não, trata-se antes de uma luta surda, paciente, subtil. Quando se quer de facto ir apanhar um veado, temos de começar por nos concentrarmos, por nos fecharmos sobre nós próprios, dirigindo-nos depois silenciosamente para as montanhas, antes mesmo do amanhecer. Quando se vai caçar, o importante não é tanto aquilo que se faz, é mais aquilo que se sente. Há que ser subtil, astuto, há que estar sempre pronto, ser absolutamente determinado, resoluto no avançar, fatal como o destino. Pois tudo se passa como se mais não houvesse do que um simples destino a cumprir. O nosso próprio destino comanda e determina o destino do veado que se anda a caçar. Em primeiro lugar, antes mesmo de vermos a caça, trava-se uma estranha batalha, uma batalha mesmérica, de magnetismo contra magnetismo. A nossa própria alma, como um caçador, partiu já em busca da alma do veado, e isto mesmo antes de vermos qualquer veado. E a alma do veado luta para lhe escapar. É assim que tudo se passa, antes mesmo de o veado ter captado o nosso cheiro. Trava-se então uma batalha de vontades, subtil, profunda, uma batalha que tem lugar no mundo do invisível. Batalha que só acaba quando a nossa bala atinge o alvo.

E quando se chega realmente ao verdadeiro clímax, quando a caça surge por fim na nossa linha de tiro, não vamos então apontar como quando praticamos tiro ao alvo contra uma garrafa. Pois nessa altura é a nossa própria vontade que realmente conduz a bala até ao coração da caça. O voo da bala, direta ao alvo, não passa de uma débil projeção do nosso próprio destino no destino do veado. Tudo acontece enquanto expressão de um supremo desejo, de um





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