- Você não sabe o que está a dizer! - exclamou, um leve e passageiro tom de escárnio palpitando-lhe na voz. - Mas que disparate! Tenho idade para ser sua mãe.
- Sim, sei muito bem o que estou a dizer.
Sei, sim, sei muito bem o que estou a dizer insistiu ele com enorme suavidade, como se quisesse que ela sentisse no sangue toda a força da sua voz. - Tenho plena consciência daquilo que estou a dizer. E você não tem idade para ser minha mãe, sabe muito bem que isso não é verdade. E mesmo que assim fosse, que importava isso? Pode muito bem casar comigo tenha lá a idade que tiver. Que me importa a idade? E que lhe importa isso a si? A idade não interessa!
Sentiu-se tomada de uma súbita tontura, quase que a desfalecer, quando ele acabou de falar. Ele falava rapidamente, naquela maneira rápida de falar que tinham na Cornualha, e a sua voz parecia ressoar algures dentro dela, lá onde se sentia totalmente impotente contra isso. «A idade não interessa!» Aquela insistência, como ele a dissera, suave e ardente ao mesmo tempo, dava-lhe uma estranha sensação e, por instantes, ali perdida na escuridão, sentiu-se quase a cambalear. E não foi capaz de responder.
Ele exultou, os membros ardendo-lhe, frementes, tomados de incontível júbilo. Sentiu que ganhara a partida.
- Bem vê que quero casar consigo. Porque é que não havia de o querer? - continuou ele, no seu jeito rápido e suave. E ficou à espera de uma resposta. Em meio à escuridão, ela parecia-lhe quase fosforescente.