De pálpebras cerradas, o rosto meio de lado, tinha um ar ausente, abstrato. Parecia dominada pelo seu poder, submissa, quase que vencida. Mas ele aguardou, prudente e alerta. Ainda não ousava tocar-lhe.
- Diga lá que sim - volveu ele. - Diga que casa comigo. Vá, diga!... - Falava agora num tom de suave insistência.
- O quê? - perguntou então ela, numa voz frouxa, distante, como de alguém presa de viva dor. A voz do rapaz tornara-se agora incrivelmente meiga, cada vez mais suave. Ele estava agora muito perto dela.
- Diga que sim.
- Não, não posso! - gemeu ela, desamparada, mal articulando as palavras, quase que num estado de semi-inconsciência, como alguém nas vascas da agonia. - Como seria isso possível?
- Claro que pode - respondeu ele com meiguice, pousando-lhe suavemente a mão no ombro enquanto ela permanecia de pé, atormentada e confusa, o rosto de lado, a cabeça descaída. - Pode, claro que pode. Porque diz que não pode? Pode, bem sabe que pode. - E, com extrema ternura, curvou-se para ela, tocando-lhe no pescoço com o queixo, pousando-lhe os lábios, a boca.
- Não, não faça isso! - gritou ela, um grito frouxo, incontrolado, quase que histérico, escapando-se para depois o encarar. - O que quer dizer com isso? - acrescentou ainda. Mas não tinha forças para continuar a falar. Era como se já estivesse morta.
- Exatamente aquilo que disse - insistiu ele, com cruel suavidade. - Quero que case comigo. É isso mesmo, quero que case comigo. Agora já entendeu, não é assim? Já entendeu? Já? Diga que sim...
- O quê? - perguntou ela.
- Se já entendeu?... - replicou ele.
- Sim - respondeu ela. - Sei aquilo que disse.
- E sabe que falo a sério, não sabe?