O Raposo - Cap. 1: Capítulo 1 Pág. 55 / 111

Mas não, sentiu que não fora nada. Assim, voltou a sentar-se com a espingarda em cima dos joelhos e as mãos enfiadas debaixo dos braços para as aquecer, o olhar fixamente cravado na pálida luminosidade do portão aberto, sem um pestanejo sequer nos olhos firmes e atentos. Entrando-lhe pelas narinas, sentiu o odor quente, enjoativo e forte das galinhas que dormiam, pairando no ar frio e cortante.

E então... Uma sombra. Deslizando pelo portão, viu passar uma sombra. Concentrando o olhar num único e poderoso foco visual, viu então a sombra do raposo, viu o raposo rastejando sobre o ventre através do portão. Lá estava ele, de ventre rastejante como uma, cobra. Sorrindo para consigo, o rapaz levou a arma ao ombro. Sabia perfeitamente como tudo se iria passar. Sabia que o raposo se ia dirigir para junto das tábuas da porta do galinheiro, pondo-se aí a farejar. E sabia que ele Se ia quedar aí uns instantes, sentindo o cheiro das galinhas no interior. Então, pôr-se-ia de novo a rondar por ali, focinho rente ao chão junto às paredes do velho celeiro, à espera de descobrir por onde entrar.

A porta do galinheiro ficava ao cimo de uma ligeira subida. Tão suave e impercetível como uma sombra, o raposo rastejou ao longo da subida e acocorou-se de focinho encostado às tábuas. Nesse preciso momento, ouviu-se o estrondo ensurdecedor do disparo da caçadeira ecoando entre os velhos edifícios, quase como se a noite tivesse explodido, mil e um estilhaços voando no ar. Mas o rapaz quedou-se na expectativa, olhar atento e brilhante. E viu então o ventre branco do raposo, as patas do animal debatendo-se no ar nas vascas da agonia. Depois, encaminhou-se para lá.





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