O Raposo - Cap. 1: Capítulo 1 Pág. 81 / 111

- Não - respondeu ele, chocado.

- Não percebo porque estás para aí a repisar isso da velhice - disse ela então. - Ainda não tenho noventa anos, que eu saiba.

- E alguém disse que os tinhas, por acaso? - replicou ele, ofendido.

Virando a cara, ficaram então calados por algum tempo, entregues aos seus pensamentos. - Não gosto que faças pouco de mim disse então ele.

- Ah, não? - volveu ela, num tom enigmático.

- Não, porque neste momento eu estou a falar a sério. E quando estou a falar a sério não gosto de brincadeiras.

- Queres dizer que ninguém deve fazer troça de ti - retorquiu ela.

- Sim, é isso. E também significa que eu próprio não estou disposto a brincar. Quando me acontece estar sério é assim, não gosto de brincadeiras ou de troças.

Ela ficou silenciosa por alguns instantes.

Depois, numa voz vaga, abstracta, algo dolorida mesmo, disse então:

- Não, não estou a fazer pouco de ti.

Ele sentiu-se como que tomado por uma onda de calor, o coração pulsando-lhe rápido e quente.

- Então acreditas em mim, não é verdade? - perguntou.

- Sim, acredito em ti - replicou ela, numa voz onde ressaltava algo do seu velho cansaço, da sua habitual indiferença, como se só cedesse por já estar cansada e farta. Mas ele não se importou, só dando ouvidos ao entusiasmo que lhe ia no coração, inflamado e jubiloso.

- Concordas então em casar comigo antes de eu partir, digamos, lá pelo Natal? Concordas?...

- Sim, concordo.

- Óptimo! - exclamou ele. - Então está combinado.

E deixou-se estar sentado em silêncio, quase que inconsciente, o sangue fervendo-lhe nas veias, correndo, escaldante, num estonteamento de vertigem, pulsando, frenético, num formigar alucinado, todas as suas fibras





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