- Com efeito - murmurei eu - esse sujeito teria imensa razão para urrar... - E depois - clamava ainda o meu amigo - o Pessimismo é excelente para os Inertes, porque lhes atenua o desgracioso delito da Inércia. Se toda a meta é um monte de Dor, onde a alma vai esbarrar, para que marchar para a meta, através dos embaraços do mundo? E de resto todos os Líricos e Teóricos do Pessimismo, desde Salomão até ao maligno Schopenhauer, lançam o seu cântico ou a sua doutrina para disfarçar a, humilhação das suas misérias, subordinando-as todas a uma vasta lei de Vida,
uma lei cósmica, e ornando assim com a auréola de uma origem quase divina as suas miúdas desgraçazinhas de temperamento ou de sorte. O bom Schopenhauer for mula todo o seu schopenhauerismo, quando é um filósofo sem editor, e um professor sem discípulos; e sofre horrendamente de terrores e manias; e esconde o seu dinheiro debaixo do sobrado: e redige as suas contas em grego nos perpétuos lamentos da desconfiança; e vive nas adegas com o medo de incêndios; e viaja com um copo de lata na algibeira para não beber em vidro que beiços de leproso tivessem contaminado!... Então Schopenhauer é sombriamente schopenhauerista.