O Poço e o Pêndulo - Cap. 1: O poço e o pêndulo Pág. 14 / 20

E detive-me neste pensamento. Não me atrevi a ir mais longe que esta reflexão. Debrucei-me sobre ele com uma atenção teimosa - como se ao fazê-lo pudesse deter a descida do aço. Obriguei-me a pensar qual seria o som que o crescente faria ao atravessar-me a roupa - a sensação peculiar e arrepiante que a fricção do tecido provoca nos nervos. Debrucei-me sobre todas estas ninharias até sentir que os dentes me rangiam.

Mais baixo - regularmente o pêndulo descia. Sentia um prazer frenético a comparar a sua velocidade lateral com a vertical. Para a direita para a esquerda - fugindo; com o uivo de um espírito demoníaco; até ao meu coração com o passo furtivo de um tigre. Eu ria e gritava alternadamente, conforme uma ou outra ideia dominava.

Mais para baixo - seguramente, incansavelmente. Vibrava a três polegadas do meu peito! Lutei violentamente, furiosamente, para libertar o braço esquerdo. Este só estava livre do cotovelo até à mão. Podia levar esta do prato colocado ao meu lado até à boca com grande esforço, mas mais não. Pudesse eu rebentar as correias que me prendiam e tentaria agarrar e parar o pêndulo. Era a mesma coisa que tentar deter uma avalancha!

Para baixo - incessantemente - inevitavelmente. Respirava com dificuldade e agitava-me a cada vibração. Cada oscilação me fazia encolher. Os meus olhos seguiam o seu percurso ascendente ou descendente com o desespero mais ardente e insensato; fechavam-se espasmodicamente quando descia, embora a morte fosse um alívio. Oh!, que alívio indizível. E no entanto todo eu tremia quando pensava que bastava a máquina descer uns milímetros para precipitar sobre o meu peito essa lâmina afiada, brilhante. Era a esperança que, assim me fazia tremer os nervos e encolher todo o meu ser.





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