Crepúsculo dos Ídolos - Cap. 10: Capítulo 10 Pág. 74 / 106

33.

O Valor Natural do Egoísmo. O egoísmo é tão valoroso quanto é fisiologicamente valoroso aquele que o possui: ele pode ser muitíssimo valoroso, ele pode não ser digno de nada e desprezível. Todo e qualquer indivíduo precisa ser considerado em função do fato de representar a linha ascendente ou decrescente da vida. Com uma decisão quanto a isto tem-se também um cânone em relação ao valor de seu egoísmo. Se ele representa a ascensão da linha, então o seu valor é efetivamente extraordinário - e, em função da vida conjunta que com ele dá um passo adiante, o cuidado em torno da conservação, em torno da criação de seu optimum de condições mesmas deve ser extremo. O indivíduo, o "indiviso", tal como o povo e o filósofo o compreenderam até aqui, é em verdade um erro: ele não é nada por si, nenhum átomo, nenhum "anel de uma corrente", nada simplesmente herdado de outrora - ele é toda uma linha homem até ele mesmo ainda... Se ele representa o desenvolvimento decadente, o declínio, a degeneração crônica, o adoecimento (- doenças são já, a grosso modo, consequências paralelas do declínio, não as suas causas), então lhe cabe pouco valor, e a equidade quer que ele retire do homem bem constituído o mínimo possível. Ele não é senão o parasita deste último...

34.

Cristo e Anarquista. Quando o anarquista, enquanto a embocadura das camadas decadentes da sociedade, exige com uma bela indignação "direito", "justiça", "igualdade de direitos", ele não se encontra com isto senão sob a pressão de sua ignorância, a qual não sabe compreender o real porquê de seu sofrimento: - a qual não sabe compreender em relação ao que ele é pobre, à vida... Um impulso causal é nele poderoso: alguém precisa ser culpado pelo fato de ele se sentir mal... Também faz bem para ele a "bela indignação" mesma, é um prazer para todos os pobres diabos o maldizer: há aí uma pequena embriaguez de potência.





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