Neste tempo havia Dorotéia voltado a si, e havia escutado tudo quanto Lucinda dissera, por onde veio a conhecer a pessoa que falava, e vendo que D. Fernando continuava em não a deixar sair de seus braços, nem respondia às suas razões, esforçando-se, quanto pôde, se levantou, e lançando-se de joelhos aos pés dele, banhada em lágrimas, tão lastimadas como formosas, lhe disse:
— Se não é, senhor meu, porque os raios deste sol, que em teus braços eclipsado tens, te ofuscam e tiram toda a luz dos olhos, já terás visto que esta que se acha ajoelhada a teus pés é a mísera Dorotéia, sempre desditosa enquanto for da tua vontade que ela o seja: eu sou aquela humilde lavradora a quem tu por tua bondade, ou por teu gosto, quiseste elevar à altura de poder chamar-se tua: sou a que encerrada nos limites da honestidade viveu vida contente até que às vozes de tuas importunações e dos teus sentimentos, que amorosos e justos pareciam, abriu as portas do seu recato e te entregou as chaves da sua