Consideram loucura extrema praticar a virtude áspera e dolorosa, expulsando da vida o prazer e suportando voluntariamente a dor, sem esperança de recompensa. Que proveito haverá, se um homem, que passa a vida sem qualquer prazer, isto é, na desgraça, não espera recompensa depois da morte? Ora; eles consideram que a felicidade consiste, não em qualquer prazer, mas apenas nos prazeres bons e honestos, e que, para esses prazeres, tudo, até a virtude, arrasta a natureza humana. E está errado quem julga que a felicidade consiste na virtude.
Os Utopianos definem assim a virtude: «Viver conforme a natureza, e para isso Deus nos destinou.»
O homem que segue o curso da natureza é aquele que se orienta pela razão nos seus apetites e desprezos. Ora, a razão inspira, em primeiro lugar, ao homem, o amor e a veneração pela majestade divina, a cuja bondade devemos o ser e a possibilidade de atingir a felicidade. E, em segundo lugar, ensina-nos e incita-nos a viver alegremente e sem tristezas, levando-nos a auxiliar e a desenvolver nos outros o respeito pela natureza, que nos leva a obter tal felicidade.
Não há homem algum, por mais intolerante e estrito zelador da virtude, ou por mais inimigo do prazer, que, ao incitar-nos aos sofrimentos, vigílias e jejuns, vos não exorte também a aliviar, a consolar, no que puderdes, a miséria e a desgraça dos outros, elogiando essa tarefa como um feito de humanidade e misericórdia. Assim, se é um dever de humanidade salvar e confortar