Que homem, ao acordar, não sente que está de saúde, ou então que a não possui? Haverá alguém tão insensível, igual a uma pedra, ou em tal estado de letargia, que não sinta o deleite que a saúde lhe proporciona e não o aceite? E esse deleite que outra coisa é senão o prazer?
Preferem principalmente os prazeres do espírito, que consideram como os principais e mais essenciais de todos. Pensam que os mais importantes advêm do exercício da virtude e da consciência de uma vida perfeita. Dos prazeres ministrados pelo corpo dão preeminência à saúde. Consideram muito desejáveis os prazeres de comer e beber e outros semelhantes, mas unicamente porque se relacionam com a saúde, visto que essas coisas não são agradáveis por si próprias, mas apenas porque se opõem à invasão secreta da doença. E, tal como o homem sensato evita a doença de preferência a usar remédios e evita a dor de preferência a recorrer ao consolo, pensam ser melhor recorrer a estes prazeres do corpo do que, privando-se deles, terem de recorrer a meios de cura da dor.
Quando alguém, no entanto, faz consistir a sua felicidade nessa espécie de prazeres, então o cúmulo da sua felicidade consistiria em ter fome e sede permanentes, que lhe permitiriam estar continuamente a comer e a beber: tendo como resultado, e ninguém disso duvida, uma vida miserável, louca, desonesta e desgraçada. Estes são, sem dúvida alguma, os prazeres mais baixos, pela sua impureza e imperfeição. Só se alcançam depois de necessariamente se ter sofrido os males que lhes são contrários, pois