Primaveras Românticas - Cap. 6: Poesias Diversas Pág. 109 / 118


III

 

Feriram-te, ave augusta! Seta escura
Varou-te o coração! e a terra ingrata
Pôde beber teu sangue! No teu ninho
Vejo os ovos do abutre! tuas penas
O vento as dispersou! És como um sonho

 

De que mal há memória - como a nuvem
Que a rajada partiu - e como a lágrima
Dos olhos do cativo, sobre as ondas!
Ergo a face entre os montes e olho ao longe:
É ainda um mar de brilho esse horizonte...
Mas nas vagas serenas já não vejo
Teu seio, como barca de harmonias,
Entre os astros vogando compassado!

 

Alma virgem do mundo! Vestal santa!
Que sopro te apagou o lume puro
Em tuas aras d'oiro? Claro espírito!
Consciência universal! que sonho estranho
Te enlouqueceu de dor? Entre as florestas,
Quando o vento do inverno bate os ramos,
Há, pelo horror da noite, um choro escuro,
E uma voz dolorosa ao longe ulula...
É Diana, a formosa, a casta, a ingénua,
Ferida, e os pés em sangue pelas urzes,
Que vaga douda e corre pelas selvas
Chamando em vão os deuses foragidos!

 





Os capítulos deste livro