Duas Palavras (Prefácio do Autor) Se me perguntarem porque publico estes versos, marcos poéticos tão distanciados já no caminho da vida real, e cujo merecimento moral (salvo a moralidade íntima da intenção, a sinceridade no sentimento) é talvez ainda inferior ao merecimento literário - responderei: porque não me envergonho de ter sido moço.
Ter sido moço é ter sido ignorante, mas inocente.
A luz intensa e salutarmente cruel da realidade dissipa mais tarde as névoas doiradas da fantasiadora ignorância juvenil. Mas a inocência, a inteireza daquele
indomato amore com que abraçámos as quimeras falazes dum coração enlouquecido pelo muito desejar, essa inocência é a justificação sagrada daquelas ilusões, o que as torna respeitáveis, o que nos impede, quando de longe em longe as avistamos do horizonte esmaecido do passado, de as encararmos com o sorriso gelado do desdém: é a sua legitimidade.