A Escrava Isaura - Cap. 16: Capítulo 16 Pág. 135 / 185

Trate de fazer o que a lei ordena e a prudência aconselha, se não quer que use de meu direito...

- Qual direito?!...

- De varejar esta casa e levar à força a escrava.

- Retira-te, miserável esbirro! - bradou Álvaro com força, não podendo mais sopear a cólera. - Desaparece de minha presença, se não queres pagar caro o teu atrevimento!...

- Senhor Álvaro!... veja o que faz!

O Dr. Geraldo, não achando muita razão em seu amigo, por prudência até ali se tinha conservado silencioso, mas vendo que a cólera e imprudência de Álvaro ia excedendo os limites, julgou de seu dever intervir na questão, e aproximando-se de Álvaro, e puxando-lhe o braço:

- Que fazes, Álvaro? - disse-lhe em voz baixa. - Não vês que com esses arrebatamentos não consegues senão comprometer-te, e agravar a sorte de Isaura? mais prudência, meu amigo.

- Mas... que devo eu fazer?... não me dirás?

-Entregá-la.

- Isso nunca!... - replicou Álvaro terminantemente.

Conservaram-se todos silenciosos por alguns momentos. Álvaro parecia refletir.

- Ocorre-me um expediente, - disse ele ao ouvido de Geraldo, - vou tentá-lo.

E sem esperar resposta aproximou-se de Martinho.

- Senhor Martinho, - disse-lhe ele, - desejo dizer-lhe duas palavras em particular, com permissão aqui do doutor.

- Estou às suas ordens, - replicou Martinho.

- Estou persuadido, senhor Martinho, - disse-lhe Álvaro em voz baixa, tomando-o de parte, - que a gratificação de cinco contos é o motivo principal que o leva a proceder desta maneira contra uma infeliz mulher, que nunca o ofendeu. Está em seu direito, eu reconheço, e a soma não é para desprezar. Mas se quiser desistir completamente desse negócio, e deixar em paz essa escrava, dou-lhe o dobro dessa quantia.

- O dobro!... dez contos de réis! exclamou Martinho arregalando os olhos.





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