A Escrava Isaura - Cap. 9: Capítulo 9 Pág. 69 / 185

É uma humilde escrava que com as lágrimas nos olhos e a dor no coração vos roga pelas vossas dores sacrossantas, pelas chagas de vosso Divino Filho: valei-me por piedade.

Quanto Isaura era formosa naquela suplicante e angustiosa atitude! oh! muito mais bela do que em seus momentos de serenidade e prazer!... se a visse então, Leôncio talvez sentisse abrandar-se o férreo e obcecado coração. Com os olhos arrasados em lágrimas, que em fio lhe escorregavam pelas faces desbotadas, entreaberta a boca melancólica, que lhe tremia ao passar da prece murmurada entre soluços, atiradas em desordem pelas espáduas as negras e opulentas madeixas, voltando para o céu o busto mavioso plantado sobre um colo escultural, ofereceria ao artista inspirado o mais belo e sublime modelo para a efígie da Mãe Dolorosa, a quem nesse momento dirigia suas ardentes súplicas. Os anjos do céu, que por certo naquele instante adejavam em torno dela agitando as asas de ouro e carmim, não podiam deixar de levar tão férvida e dolorosa prece aos pés do trono da Consoladora dos aflitos.

Absorvida em suas mágoas Isaura não viu seu pai, que, entrando pelo salão a passos sutis e cautelosos, encaminhava-se para ela.

- Oh! felizmente ela ali está, - murmurava o velho, - o algoz aqui também andava! oh! pobre Isaura!... que será de ti?!...

- Meu pai por aqui!... - exclamou a infeliz ao avistar Miguel. - Venha, venha ver a que estado reduzem sua filha.

- Que tens, filha?... que nova desgraça te sucede?

- Não está vendo, meu pai?... eis ali a sorte, que me espera, - respondeu ela apontando para o tronco e as algemas, que ali estavam ao pé dela.

- Que monstro, meu Deus!... mas eu já esperava por tudo isto...

- É esta a liberdade que pretende dar àquela que a mãe dele criou com tanto amor e carinho. O mais cruel e aviltante cativeiro, um martírio continuado da alma e do corpo, eis o que resta à sua desventurada filha...





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