Maria Moisés - Cap. 2: Capítulo 2 Pág. 9 / 86

– Então que é, tio Luís? – perguntou o rapaz com a rouquidão afónica do pavor.

– É uma mulher a chorar, tu não ouves? Vamos ver quem geme antes de mais nada.

Transpôs o moleiro de um pulo o valado, tossindo de maneira que significava coragem neste bravo do Rossilhão, mas que em outros bravos que tossem não tem sempre o mesmo significado. O pequeno seguia-o tão de perto que o trilhava nos calcanhares.

Seguiu bem rente a ourela do Tâmega; de vez em quando ouvia os gemidos, mas pareciam-lhe mais longe ao passo que mais se avizinhava, porque a voz ia esmorecendo em soluços abafados. Ao cabo do ervaçal adensava-se uma moita de álamos e salgueiros, e lá no interior o rio espraiava-se, formando lençol de água murmurosa, onde os pescadores colhiam com as chumbeiras as bogas no tempo da desova. Ao chegarem ali, ouviram estas palavras:

– Quem me acode, que eu morro sem confissão!

– Ela é a senhora Zefinha! É a minha ama! Valha-me Deus! – exclamou o pastor, e com incrível ânimo rompeu a direito por entre a ramaria do salgueiral, e saltou, sem arregaçar-se, ao rio, que lhe dava pelo joelho. O moleiro seguiu-o. Com meio corpo na água e os braços enroscados no esgalho de uma árvore, entreviram, mal distinto na escuridão cerrada da ramagem, aquele vulto de mulher, que repetia as palavras:

– Quem me acode, que eu morro sem confissão!

– Ó senhora Zefinha! – disse o rapaz – é vossemecê? – e deitou-lhe os braços ao peito erguendo-a para si. – Ó tio Luís, ajude-me que eu não posso!





Os capítulos deste livro