– É má noite. O peixe meteu-se aos poços. Anda coisa má por aqui... Vou-me chegando a casa.
– Coisa má? Topaste algum avejão no rio? Olha que a alma do capitão-mor anda na serra; mas talvez viesse tomar banho, que a noite está quente. –
Homem – volveu o pescador escrupuloso –, deixemo-nos de graçolas. Aí bem perto donde tu estás, para lá desses salgueiros, ouvi eu, quando passei p’ra riba, uma coisa que parecia uma criatura a chorar e a gemer.
– Isso era coruja ou sapo – replicou o moleiro com a intemerata certeza das ciências naturais. – Se tens medo, vou contigo; mas hás-de repartir do peixe que levas... Lá está a cabra a berrar, ouves, rapaz?
– Já passou para além do rio – disse o da chumbeira – havia de ser pelo açude. Tendes que fazer. Adeus, Luís.
– Má raios partam a cabra! – praguejou o moleiro. – Temos de ir passar às Poldras. Olha que espiga! Eu antes queria pagar a rês a teu amo que ir agora além do rio!
Neste momento, ouviram gemidos, que pareciam pouco distantes, à beira do rio.
O pastor, com as mãos fechadas sobre a boca, e pondo-se de cócoras, disse:
– Ai Jesus!
– Aquilo é cousa! – observou o veterano com pachorrenta reflexão. – Bem dizia o outro. Não é coruja nem sapo... Àgora é!