- Diz-me então, minha querida, com toda a sinceridade, se o pouco que tens chegaria ou não para nos manter juntos, de qualquer maneira e em qualquer posição ou lugar?
Por sorte minha, não lhe revelara ainda quem era e o que possuía, e nem sequer o próprio nome lhe dissera. Percebendo que nada podia esperar dele, por muito bom e sincero que parecesse, além de viver do que, sabia-o, em breve se esgotaria, resolvi ocultar-lhe tudo, com excepção da nota e dos onze guinéus que lhe mostrara; por muito feliz me daria se perdesse aquela importância e ficasse como ele me encontrara. Tinha ainda outra nota de trinta libras, que, com o restante, era tudo quanto trouxera comigo para me manter naquela região, por não saber ao certo o que se passaria; a intermediária que a ambos traíra convencera-me de- estranhas coisas relacionadas com a possibilidade de um casamento vantajoso e eu não quisera encontrar-me sem dinheiro, acontecesse o que acontecesse. Escondi, pois, essa segunda nota e isso permitiu que me sentisse mais desapegada do resto, em consideração pelas suas circunstâncias, que lamentava sinceramente.
Mas, voltando à sua pergunta, respondi-lhe que nunca o enganara conscientemente, nem nunca enganaria. Lamentava muito dizer-lhe que o pouco que possuía não chegaria para nos manter nem, tão-pouco, para me manter a mim só, no Sul, motivo que me levara a entregar-me nas mãos da mulher que lhe chamava irmão e que me assegurara que poderia viver muito bem numa cidade chamada Manchester, onde eu nunca estivera, por cerca de seis libras por ano. Como o meu rendimento não excedia quinze libras anuais, pensara que poderia remediar-me assim e aguardar melhores dias.