Foi então que, pela primeira vez, senti indícios de arrependimento sincero. Comecei a considerar o meu passado com repugnância e a vida começou a aparecer-me com um aspecto totalmente diferente e outro significado. As coisas maiores e melhores, a felicidade, a alegria e os desgostos da vida, apresentavam-se-me com um aspecto novo e tinha agora pensamentos tão infinitamente superiores aos que antes tivera que me parecia a maior estupidez desta vida atribuir importância às coisas deste mundo, por muito valiosas que parecessem.
A palavra eternidade apresentava-se-me em toda a sua incompreensível amplitude e era tão grave a opinião que dela fazia agora que não sei exprimi-la. Comparadas com ela, como pareciam abomináveis, grosseiras, absurdas, todas as coisas agradáveis - isto é, as que, antes, considerara agradáveis -, sobretudo quando pensava que por essas sórdidas bagatelas púnhamos em jogo a felicidade eterna!
Estas reflexões geraram, como seria lógico, graves censuras do meu espírito ao miserável comportamento da minha vida passada, pois, graças a ele, deitara a perder todas as esperanças de felicidade na vida eterna, em cujo limiar me encontrava, tornando-me, pelo contrário, merecedora de todas as misérias e infâmias, misérias e infâmias que seriam, ai de mim!, também eternas.