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Capítulo 2: A vida amorosa de Moll Flanders

Página 303

Não tenho competência para pregar sermões seja a quem for, mas conto tudo isto como então senti, o melhor que posso, mas consciente de que a descrição fica imensamente aquém das emoções que vincaram a minha alma nesses dias, emoções que são impossíveis de traduzir por palavras ou que eu não sou capaz de descrever. Todo o leitor consciente deve reflectir seriamente nelas, de acordo com as suas circunstâncias pessoais, pois mais cedo ou mais tarde todos as sentimos, pelo menos em parte. Proporcionar-lhe-ão talvez uma visão mais clara do futuro e uma perspectiva mais negra do seu passado.

Mas voltemos ao meu caso. O sacerdote insistiu em que lhe dissesse, se me parecesse conveniente, em que situação me considerava em relação ao que sucederia depois da morte. Garantiu-me que não me falava como capelão da cadeia, a quem competia extorquir confissões aos presos para fins particulares ou para posterior captura de outros delinquentes; a sua intenção era conduzir-me a uma liberdade de expressão que me permitisse desabafar, aliviar o espírito do peso que o sufocava, para que pudesse consolar-me tanto quanto estivesse ao seu alcance. Fosse o que fosse que lhe dissesse, afirmou-me, ficaria consigo, seria um segredo conhecido apenas de Deus e de mim própria; não lhe interessava saber nada a meu respeito, mas apenas obter uma base a partir da qual me pudesse aconselhar e confortar de maneira conveniente e orar a Deus por mim.

A maneira franca e amiga como me tratava abriu todas as comportas dos meus sentimentos, penetrou-me na própria alma, e revelei-lhe toda a perversidade da minha vida; numa palavra, fiz-lhe um resumo desta história, revelei-lhe uma imagem miniatural da minha conduta durante cinquenta anos.

Não lhe ocultei nada e, em troca, exortou-me a que me arrependesse sinceramente, explicou-me o que entendia por arrependimento e falou-me em tais termos da infinita piedade do Céu para com os pecadores, por muito grandes que fossem os seus pecados, que não soube que responder-lhe no meu desespero e dúvida de ser aceite.

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Capa do livro A Vida Amorosa de Moll Flanders
Páginas: 359
Página atual: 303

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Prefácio 1
A vida amorosa de Moll Flanders 7