Vivemos todos juntos, pois a minha sogra continuou a morar em nossa casa, a meu pedido, visto ser uma mãe tão terna que o coração me não consentia separar-me dela. O meu marido continuou também a ser bom como no primeiro dia e eu considerava-me a criatura mais feliz de todas quando um estranho e surpreendente acontecimento pôs um fim brusco a essa felicidade e me deixou na situação mais desagradável, se não na mais desgraçada, do mundo.
A minha sogra era uma velha senhora muito alegre e bem disposta - posso chamar-lhe velha senhora porque o filho tinha mais de 30 anos -, muito simpática e muito boa companheira, e costumava entreter-me, sobretudo, com muitas histórias, tanto da terra onde vivíamos como dos seus habitantes.
Entre outras coisas, contou-me muitas vezes que a maior parte dos habitantes da colónia tinham vindo de Inglaterra em circunstâncias muito lamentáveis e eram, de uma maneira geral, de duas espécies: uns tinham sido trazidos pelos comandantes dos barcos para serem vendidos como servos - «É assim que lhes chamamos, minha filha», explicou-me, «mas seria mais adequado chamar-lhes escravos» -, outros haviam sido deportados de Newgate e de outras prisões, depois de serem considerados culpa- dos de felonia e de outros crimes puníveis com a morte.