O Raposo - Cap. 1: Capítulo 1 Pág. 107 / 111

Pois essa flor oculta no seu cálice, qual poço sem fundo, um pavoroso abismo, um abismo de trevas e voragem, insondável, tenebroso.

Eis toda a história da busca da felicidade, quer seja a nossa ou a de outrem que se pretenda atingir. Tal busca acaba sempre, mas sempre, na horrível sensação de haver um poço sem fundo, um abismo de pó e nada no qual acabaremos inevitavelmente por cair se se tentar ir mais longe.

E as mulheres? Que outro objectivo pode urna mulher conceber senão a felicidade? Só a felicidade e nada mais que a felicidade, a felicidade para si própria e para todos aqueles que a rodeiam, a felicidade para o mundo inteiro, em suma. Só isso, nada mais. E assim, assume todas as responsabilidades inerentes e parte em buscado almejado objectivo. Quase que o pode ver ali, logo ali no fim do arco-íris. Ou então um pouquinho mais além, no azul da distância. De qualquer das formas, não muito longe, nunca muito longe.

Mas o fim do arco-íris é um abismo sem fundo, perdendo-se terra adentro, no qual se pode mergulhar sem nunca se chegar a lado algum, e o azul da distância é um poço de vazio que nos pode engolir, a nós e a todos os nossos esforços, no vácuo da sua voracidade sem por isso deixar de ser um abismo sem fim, um abismo de trevas e de nada. Sim, a nós e a todos os nossos esforços; Assim é a incessante perseguição da felicidade, sempre tão ilusoriamente ao nosso alcance!

Pobre March! Ela que partira com tão admirável determinação em busca da meta entrevista no azul da distância. E quanto mais longe ia, tanto mais terrível se tornava a noção da vacuidade envolvente. Por último, tal percepção tornara-se para si numa fonte de dolorosa agonia, numa sensação de insanidade, de loucura.





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