O Raposo - Cap. 1: Capítulo 1 Pág. 27 / 111

que ela tinha para dizer e rindo-se depois com o seu riso rápido, sacudido, um tanto trocista por vezes. E ajudava-as de boa vontade no trabalho, pelo menos desde que este não fosse muito. Gostava mais de andar por fora, sozinho com a sua espingarda, sempre atento e observador, olhando para tudo com olhos de ver. Pois lia-se-lhe nos olhos ávidos uma insaciável curiosidade por tudo e todos, donde sentir-se mais livre quando o deixavam só, sempre meio escondido em observação, alerta e vigilante.

E era March quem mais gostava de observar, pois o seu estranho carácter intrigava-o e atraía-o ao mesmo tempo. Por outro lado, sentia-se seduzido pela sua silhueta esguia, pelo seu porte grácil, algo masculino. Sempre que a olhava, os seus olhos negros atingiam-no no mais íntimo de si mesmo, faziam-no vibrar de júbilo, despertavam em si uma curiosa excitação, excitação que receava deixar transparecer, tão viva e secreta ela era. E depois aquela sua estranha forma de falar, inteligente e arguta, dava-lhe uma franca vontade de rir. Naquele dia, sentiu que devia ir mais longe, que havia algo a impeli-lo irresistivelmente para ela. Contudo, afastando-a do pensamento, recalcou tais impulsos e saiu porta fora, dirigindo-se para a orla do bosque de espingarda na mão.

Estava já a anoitecer quando se decidiu a voltar para casa, tendo entretanto começado a cair uma daquelas chuvas finas de fins de Novembro. Olhando em frente, viu a luz da lareira bruxuleando por detrás dos vidros da janela da sala, tremular aéreo em meio ao pequeno aglomerado dos edifícios escuros.

E pensou para consigo que não seria nada mau ser dono daquele lugar. E então, insinuando-se maliciosamente, surgiu-lhe a ideia: e porque não casar com March?





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