- Suponho que podemos contar consigo para apagar o lume e deixar tudo em ordem, não? - Estava de pé, uma mão apoiada na anca, o joelho fletido, a cabeça timidamente desviada, um pouco de lado, como se não pudesse olhá-lo de frente. De rosto erguido, ele observava-a em silêncio.
- Venha sentar-se aqui um minuto - disse então.
- Não, tenho de ir andando. Jill está à minha espera e pode ficar inquieta se eu não for já.
- Porque se sobressaltou daquela maneira há bocado? - perguntou ele.
- Mas eu sobressaltei-me? - retorquiu ela, olhando-o.
- Ora essa! Ainda há instantes - disse ele. - Na altura em que você gritou.
- Oh, isso! - exclamou da. - Bom, é que o tomei pelo raposo! - E contraiu o rosto num estranho sorriso, meio embaraçado, meio irónico.
- O raposo! Mas porquê o raposo? inquiriu ele com grande suavidade.
- Bom, é que no Verão passado, numa tarde em que tinha saído de espingarda, vi o raposo por entre as ervas, quase ao pé de mim, a olhar-me fixamente. Não sei, suponho que foi isso que me impressionou. - E voltou a virar a cabeça, balouçando ao de leve um dos pés, com um ar constrangido.
- E matou-o? - perguntou o rapaz.
- Não, pois ele pregou-me um tal susto, ali a olhar muito direito para mim, que o deixei afastar-se. Mas depois voltou a parar, virando-se então para trás e olhando-me como que a rir-se...
- Como que a rir-se! - repetiu Henry, rindo-se por seu turno. - E isso assustou-a, não foi?
- Não, ele não me assustou. Apenas me impressionou, mais nada.
- E pensou então que eu era o raposo, não é? - disse ele, rindo daquela forma estranha, sacudida, um ar de cachorrinho no nariz franzido.
- Sim, na altura pensei - respondeu ela.
- Se calhar, e ainda sem o saber, não me saiu da cabeça desde então.