E então... Uma sombra. Deslizando pelo portão, viu passar uma sombra. Concentrando o olhar num único e poderoso foco visual, viu então a sombra do raposo, viu o raposo rastejando sobre o ventre através do portão. Lá estava ele, de ventre rastejante como uma, cobra. Sorrindo para consigo, o rapaz levou a arma ao ombro. Sabia perfeitamente como tudo se iria passar. Sabia que o raposo se ia dirigir para junto das tábuas da porta do galinheiro, pondo-se aí a farejar. E sabia que ele Se ia quedar aí uns instantes, sentindo o cheiro das galinhas no interior. Então, pôr-se-ia de novo a rondar por ali, focinho rente ao chão junto às paredes do velho celeiro, à espera de descobrir por onde entrar.
A porta do galinheiro ficava ao cimo de uma ligeira subida. Tão suave e impercetível como uma sombra, o raposo rastejou ao longo da subida e acocorou-se de focinho encostado às tábuas. Nesse preciso momento, ouviu-se o estrondo ensurdecedor do disparo da caçadeira ecoando entre os velhos edifícios, quase como se a noite tivesse explodido, mil e um estilhaços voando no ar. Mas o rapaz quedou-se na expectativa, olhar atento e brilhante. E viu então o ventre branco do raposo, as patas do animal debatendo-se no ar nas vascas da agonia. Depois, encaminhou-se para lá.