- Se possível, deve-se ter sempre algum dinheiro de reserva - declarou ele então.
Assim, ela viu-o partir no comboio que ia para oeste, pois o seu aquartelamento ficava na planície de Salisbury. Viu-o partir com os seus grandes olhos negros muito abertos, tendo a sensação de que, à medida que o comboio se afastava, parte da realidade da vida se afastava com ele, realidade representada por aquele rosto estranho, corado e bochechudo, por aquelas faces largas, por aquela expressão sempre imutada, excepto quando ensombrada pela fúria, pela ira dos sobrolhos carregados, pelos olhos extáticos, vivos e brilhantes, obsessivamente fixos numa estranha imobilidade. Era isto que agora acontecia. Debruçado da janela da carruagem enquanto o comboio se punha em andamento, lá estava ele a dizer-lhe adeus e a fitá-la de olhos fixos, uma expressão inalterada no rosto parado, nos músculos imóveis. Não havia qualquer emoção naquele rosto estático. Apenas os olhos se estreitaram num olhar fixo, intencional, quase como os de um gato ao deparar subitamente com algo que o faz estancar. Assim, os olhos do rapaz quedaram-se fixos e extáticos enquanto o comboio se afastava, deixando-a para trás com uma intensa sensação de solidão e abandono. Na falta da sua presença física, parecia-lhe que já nada restava dele, que ficava absolutamente vazia, sem nada de nada.